O café, uma das bebidas mais apreciadas no mundo e desta que vos fala, tem enfrentado um aumento significativo de preço no Brasil nos últimos anos. Entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024, o preço médio do café subiu de R$ 36,89 para R$ 53,90, representando uma alta de 46,1% 1 . Esse aumento supera
significativamente a inflação geral do país, que foi de 4,2% no mesmo período, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A principal causa dessa elevação nos preços é atribuída a condições climáticas adversas, ao aquecimento global e todas as suas consequências, como secas severas e altas temperaturas, que afetaram as regiões produtoras de café no Brasil 2 . Esses fatores climáticos reduziram a produtividade das lavouras, resultando em uma oferta
menor do produto no mercado. Além disso, a produção brasileira de café arábica foi revisada para 34,4 milhões de sacas em 2024, uma redução significativa em relação às estimativas anteriores 3 .
Além disso, as cooperativas brasileiras de café relataram estoques historicamente baixos, com mais de 90% da safra de 2024 já vendida, antecipando um período de escassez até a nova colheita prevista para maio ou junho de 2025 4 .
No mercado internacional, o preço do café arábica atingiu seu nível mais alto em 13 anos, com um aumento superior a 70% ao longo de 2024 5 . Essa alta global reflete a escassez do produto devido às condições climáticas adversas em países produtores, como Brasil e Vietnã. Consequentemente, os consumidores brasileiros têm sentido no bolso o impacto dessa valorização, com o preço do café moído alcançando recordes no varejo.
Paralelo com a crise de 1929
Curiosamente, a atual crise do preço do café relembra a uma estratégia emblemática de Getúlio Vargas, durante a crise de 1929. Naquela época, o Brasil enfrentou uma queda abrupta nos preços do café no mercado internacional, o que levou o governo a adotar medidas drásticas para conter a desvalorização do produto. Entre 1931 e 1943, foram queimadas entre 50 a 70 milhões de sacas de café, equivalentes a quatro anos de produção nacional, na tentativa de reduzir a oferta e, assim, aumentar os preços do café 6 .
Hoje, embora as circunstâncias sejam diferentes, enquanto em 1929 a estratégia foi tornar o produto escasso, hoje a situação é oposta, o paralelo é evidente: tanto no passado quanto no presente, fatores que afetam a oferta de café têm um impacto direto nos preços. Enquanto na década de 1930 a solução encontrada foi a destruição do excedente para valorizar o produto, atualmente, as adversidades climáticas têm naturalmente limitado a produção, levando a uma elevação dos preços no mercado.
Impacto na Economia Brasileira
O aumento expressivo dos preços do café tem múltiplos efeitos na economia
brasileira:
- Inflação: O café é um item essencial na cesta de consumo dos brasileiros. Seu aumento de preço contribui para a elevação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no país.
- Exportações: Como um dos maiores exportadores de café do mundo, o Brasil se beneficia do aumento dos preços internacionais, o que pode melhorar a balança comercial e aumentar as receitas em moeda estrangeira.
- Consumo Interno: Por outro lado, o aumento dos preços pode reduzir o consumo interno, afetando pequenos comerciantes e a indústria de alimentos que utiliza o café como insumo.
Medidas do Governo para Conter a Alta dos Preços do Café
Diante desse cenário, o governo brasileiro implementou medidas para mitigar o impacto da alta dos preços dos alimentos, incluindo o café:
- Redução a Zero para a Tarifa de Importação: Hoje, 13 de março de 2025, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu, por unanimidade, eliminar as taxas de importação sobre produtos alimentícios específicos, incluindo o café, para combater a inflação dos alimentos. Essa medida visa aumentar a oferta interna e reduzir os preços ao consumidor 7 .
- Parcerias com o Setor Privado: O governo tem buscado parcerias com empresas do setor alimentício para ampliar a publicidade de ofertas de alimentos, estimulando a concorrência e a redução de preços.
Alíquota Zero para a Importação do Café
Imagine um cenário onde os preços dos alimentos básicos disparam, pressionando o orçamento das famílias brasileiras. Para combater essa inflação alimentar, o governo federal adotou uma medida estratégica: zerar as tarifas de importação de produtos essenciais. Essa decisão busca aumentar a oferta desses itens no mercado interno, promovendo uma concorrência saudável que pode resultar na redução dos preços ao consumidor.
Essas isenções fiscais têm como objetivo direto reduzir os preços ao consumidor, aliviando a pressão inflacionária e garantindo que produtos essenciais permaneçam acessíveis à população. Ao ampliar a oferta desses itens no mercado interno, espera- se uma concorrência que beneficie o consumidor final.
Impactos Esperados
A eliminação das tarifas de importação desses alimentos pode trazer diversos benefícios:
- Combate à inflação: Com preços mais baixos, há uma tendência de desaceleração da inflação, especialmente no setor alimentício.
- Aumento da oferta: Produtos importados sem tarifas ampliam a disponibilidade no mercado, evitando desabastecimentos e garantindo variedade ao consumidor.
- Estímulo à concorrência: Com mais players no mercado, a competitividade aumenta, incentivando melhorias na qualidade e preços mais justos.
É importante destacar que, embora o Brasil seja um grande produtor agrícola, fatores como condições climáticas adversas e oscilações na produção podem impactar a oferta interna. Assim, a abertura para importações com imposto zero surge como uma alternativa eficaz para equilibrar o mercado e proteger o consumidor.
A medida de zerar as tarifas de importação de alimentos básicos representa uma ação estratégica do governo para enfrentar a inflação e assegurar que produtos essenciais permaneçam ao alcance de todos os brasileiros.
Considerações Finais
O aumento dos preços do café é resultado de uma combinação de fatores climáticos adversos e dinâmicas de mercado. As medidas adotadas pelo governo buscam equilibrar a oferta e a demanda, visando mitigar os efeitos inflacionários e proteger o poder de compra dos consumidores brasileiros. No entanto, a eficácia dessas ações dependerá de sua implementação e da resposta do mercado nos próximos meses.
Em lembrança da solução efetica encontrada pelo govero Vargas de queimar o grão de café para aumentar sua escassez e conseguir o aumento do preço, ainda não temos certeza que a atual medida será efetiva para coibir os altos preços do café.
Uma vez que não estamos lidando apenas com a economia, sobe demanda e procura, estamos lidando com uma crise climática que, de fato, afeta significativamente todos os arranjos econômicos.
Para nós os consumidores, resta a expectativa de que as condições climáticas melhorem e que a produção se estabilize, possibilitando uma redução nos preços do café nos próximos anos.
- Preço do café em pó e grãos registra alta de 46,1% em 2024 – Mercado&Consumo ↩︎
- Seca e calor elevam preço do café no Brasil, com alta de 16,6% em 12 meses ↩︎
- Preço do café no Brasil pode chegar a R$ 50; prepare o bolso – Agro em Campo ↩︎
- Brazil’s coffee stockpiles dwindle as prices hit record highs | Reuters ↩︎
- El café se pone por las nubes: estas son las razones de la subida del precio | Negocios | EL PAÍS ↩︎
- Segunda República Brasileira – Wikipédia, a enciclopédia livre ↩︎
- Brazil trade chamber OKs import tax cuts on more food products | Reuters Governo zera taxa de importação de carne, café e azeite para conter alta dos alimentos – Noticias R7 ↩︎